A qualidade do ar que respiramos afeta diretamente o nosso conforto, saúde e qualidade de vida. Isso porque níveis altos de poluentes podem agravar ou desencadear doenças respiratórias, circulatórias e neurológicas. Essas são as conclusões de uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) que avaliou os efeitos da poluição do ar na saúde das pessoas na capital do estado.
Os pesquisadores realizaram colheram dados de poluição medidos pelas estações de monitoramento de poluentes da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) e em prontos-socorros da cidade, relacionando os indicadores de poluição com números de atendimentos, internações e mortes por problemas respiratórios. De acordo com Paulo Hilário Saldiva, chefe do Departamento de Poluição Atmosférica da FMUSP e coordenador do projeto, o ar da cidade de São Paulo recebe anualmente cerca de 3 milhões de toneladas de poluentes.
O principal poluente liberado na atmosfera é o monóxido de carbono. Anualmente são emitidas mais de 1,9 milhão de toneladas do gás. Outros poluentes importantes são os hidrocarbonetos (430 mil toneladas por ano), o óxido de nitrogênio (450 mil toneladas), o óxido de enxofre (130 mil toneladas) e o material particulado (95 toneladas). Na cidade de São Paulo, 90% dos poluentes são emitidos por veículos automotores e as indústrias são responsáveis principalmente pela emissão das partículas inaláveis e dióxido de enxofre.
Efeitos da poluição na saúde
Um dos estudos realizados pelos pesquisadores para acompanhar os efeitos da poluição do ar, consistiu em colocar ratos saudáveis em locais de alto índice de poluição do ar em São Paulo e analisar a evolução dos efeitos da poluição na saúde dos animais. Depois de três meses, foi constatado que os animais ficaram com o nariz entupido, um dos primeiros sintomas da rinite alérgica, tiveram crises de asma e ficaram com suas defesas pulmonares reduzidas. Além disso, o risco de contrair câncer se tornou 2,5 vezes maior do que o normal.
Isso acontece porque a maioria dos poluentes do ar causam a contração dos músculos das vias aéreas, estreitando a passagem do ar, e uma disfunção do aparelho mucociliar, reduzindo a capacidade do corpo de filtrar o ar inalado. Em consequência, há uma diminuição da função pulmonar, além de uma maior ocorrência de tosse, dificuldade para respirar, infecções respiratórias, distúrbios do coração e dos vasos sanguíneos, câncer de pulmão e até AVC.
Crianças e idosos
A poluição do ar é especialmente perigosa para crianças e idosos, por isso, a pesquisa do Paulo Saldiva observa a relação entre poluição atmosférica e mortalidade por doenças respiratórias nessas faixas etárias. A pesquisa identificou um aumento na taxa de mortalidade de idosos acima de 65 anos de até 12% em dias de alta concentração de poluentes no ar, que acontece principalmente no período do inverno. A pesquisa aponta também um aumento de 25% na procura por atendimento em prontos-socorros infantis em dias subsequentes a ocorrências elevadas de poluentes na atmosfera. O número de internações por motivos respiratórios durante o inverno aumenta até 15% no Sistema Único de Saúde. No Instituto da Criança da FMUSP esse índice chega a 20%.
Covid-19
Estudos realizados ao redor do mundo mostram que a poluição do ar torna a Covid-19 ainda mais letal. Por ser uma doença muito nova, muitos mais estudos ainda deverão ser feitos, porém, dados já constatam que a inalação de partículas ultrafinas aumenta consideravelmente as chances de morte pelo vírus. Para chegar a essa conclusão, pesquisadores da Escola de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade de Harvard, analisaram dados sobre os níveis de partículas ultrafinas e mortes por Covid-19 de cerca de três mil municípios dos Estados Unidos, abrangendo 98% da população do país.
Durante a pesquisa, as cidades que tiveram em média apenas um micrograma por metro cúbico a mais dessas partículas no ar apresentaram uma taxa de mortalidade até 15% maior por Covid-19. Isso, porque essas partículas penetram profundamente no corpo, enfraquecendo o sistema imunológico, aumentando inflamações nos pulmões e no trato respiratório e ampliando o risco de contrair a doença e apresentar sintomas graves.
Como se proteger da poluição do ar?
- Use seus EPIs. Se você trabalha na indústria, certifique-se de usar todos os equipamentos de proteção individual recomendados para a sua atividade.
- Realize a manutenção dos equipamentos. Sem a manutenção adequada, equipamentos industriais têm sua eficiência diminuída e sua vedação comprometida, emitindo mais poluentes.
- Repense o combustível do seu veículo. A queima de combustíveis fósseis emite mais poluentes que outros tipos de combustíveis. Por isso, sempre que possível, opte pelo etanol ou biodiesel.
- Evite locais de tráfego intenso de veículos. Dê preferência a comércios e serviços mais afastados das áreas centrais ou próximos à áreas
- Entenda os horários de maior e menor poluição. Horários de pico, como o início da manhã e o final da tarde são os de maior incidência de poluentes. Planeje suas atividades para evitar lugares com tráfego intenso nestes horários.
- Não queime biomassa em lugares fechados. A queima de biomassa é uma grande fonte de partículas. Por isso, grelhas a carvão, fogões de lenha ou churrasqueiras devem ser utilizadas sempre em lugares abertos e arejados.
- Evite ambientes fechados com fumantes. Além de causar prejuízos à saúde de quem fuma, o cigarro é uma importante fonte de poluição do ar em ambientes internos.
- Faça exercícios físicos. Mesmo considerando a poluição do ar, exercícios físicos trazem mais benefícios que prejuízos para sua saúde. Se conseguir, evite locais com tráfego intenso e dê preferência a ambientes arborizados.
- Conserve o verde. Áreas verdes têm impactos diretos no controle da poluição, temperatura e umidade do ar. Se tiver espaço, considere plantar uma árvore na sua casa. Se não, procure a associação de moradores do seu bairro ou a prefeitura da sua cidade para entender a legislação local para plantio e conservação de árvores em locais públicos.
Saiba mais
Saiba mais sobre os efeitos da poluição do ar no seu corpo com o vídeo produzido pela campanha BreatheLife. A campanha é organizada em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONU Meio Ambiente e o Banco Mundial e tem o objetivo de reduzir o impacto da poluição do ar na saúde e no clima.
Referências
https://revistapesquisa.fapesp.br/a-poluicao-causa-doencas-e-mata/